De volta à Paris

Antes de mais nada, queria compartilhar com vocês a dificuldade que está sendo escrever esse post.
Deixe-me explicar: esse foi um dia muito corrido, então, não tive tempo de sequer abrir o diário para documentar tudo bonitinho, como havia feito em todos os outros dias. O que aconteceu foi que, dentro do ônibus, quando percebi que realmente não teria tempo de escrever no diário, pedi uma folha emprestada à Kelsey para começar a escrever ali mesmo, a fim de que os acontecimentos não se perdessem em minha memória. O fato é que ela não tinha uma folha, mas, prestativa como era, não hesitou em arrancar a página de número 417 de seu dicionário inglês-francês para me servir. Fofa, não?
Aí eu comecei a escrever. Agora vem o problema: minha vocação para ser médica começa na caligrafia, que já é difícil de entender numa folha sem pauta, agora imagine como fica em meio às definições impressas na página de dicionário?! Completamente ilegível! Se você não consegue imaginar (o que é bastante plausível), eu mostro a vergonha aqui embaixo:

argh

argh

Quero adiantar que, novamente devido à correria, escrever em folhas avulsas se tornou um hábito. Gostaria muito, muito mesmo, gente, do fundo do meu s2, que vocês relevassem qualquer possível falta de nexo nesse post, além do fato de eu estar retirando alguns trechos do registro original; é que eu não tô entendendo o que eu mesma escrevi. Que vergonha, pardonnez!

 14 de Julho de 2012
Paris, França

Chegamos cedo à capital francesa. O dia prometia ser longo e incrível!

Era 14 de Julho, mais conhecido como Jour de la Fête Nacionalle. Historicamente, é o dia da queda da bastilha, marco da Revolução Francesa. Em todo o país há comemorações como as que vimos ontem em Blois e em Paris, é claro, acontece a maior festa de todas. Pois é.

Desembarcamos na Gare d’Austrelitz. Tenho mania de ler grafites em paredes e achei um que muito de chamou a atenção. Dizia “le verbe ‘avoir’ a assassiné le verbe ‘être’” (traduzindo literalmente: “o verbo ‘ter’ assassinou o verbo ‘ser'”)

Havia um motorista nos esperando. Acho que ele tava meio doido das ideias, pois fez um caminho totalmente inusitado. A estação ficava entre os arrondissements 13 e 5, mas nós passamos pelos de número 6, 7, 8… 11 e 12 até chegar ao 4, que era onde se situava o Chariot d’Or, hotel onde estávamos hospedados. Dá uma olhada no mapa abaixo, gente; acho que não precisava dar tanta volta:

Fora isso, ele dava umas freiadas bruscas! Estávamos morrendo de fome enquanto o cara rodava aleatoriamente por Paris, que maravilha!

Quando finalmente chegamos, largamos as coisas no hotel e saímos correndo para almoçar no Bistrot Victoires, no primeiro arrondissement.

Chez victoires

Bistrot Victoires

Todo mundo pediu l’entrecôte grillée au thym brûlé de la garrigue, especialidade da casa. O tomilho (thym) vem literalmente pegando fogo e você tem que esperar a chama apagar para que possa comer. É incrível ver o negócio fumegando ali, na sua frente, dentro do seu prato.

Dá pra ver o fogo?

Dá pra ver o fogo?

Depois do almoço, fomos à Place des Vosges, onde sentamos na grama e compartilhamos nossas experiências com as famílias. Falei sobre como tinham sido maravilhosos os dias com Romane e Marie-Paule, sobre o quanto havia crescido e aprendido e não pude deixar de me emocionar.

Ali mesmo, na Place, descobrimos que no dia seguinte iríamos à praia, uhuuuul! Estaríamos acompanhando um grupo de crianças da Association les Enfants de la Goutte d’Or, grupo que cuida do desenvolvimento de crianças e jovens promovendo cultura, educação e lazer.

#ansiosa

Jovens Embaixadores 2015

Já estão abertas inscrições para o programa Jovens Embaixadores 2015!

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O projeto nasceu em 2002, como iniciativa da Missão Diplomática dos EUA no Brasil, e tem como objetivo beneficiar alunos da rede pública com um intercâmbio de três semanas.

Para participar, os pré-requisitos são:

  • Ter nacionalidade brasileira;
  • Ter entre 15 e 18 anos;
  • Ter pouca ou nenhuma experiência anterior no exterior;
  • Jamais ter viajado para os Estados Unidos;
  • Ter boa fluência oral e escrita em inglês;
  • Ser aluno do ensino médio na rede pública;
  • Pertencer à camada sócio-econômica menos favorecida;
  • Ter excelente desempenho escolar;
  • Ter perfil de liderança e iniciativa;
  • Ser comunicativo;
  • Possuir boa relação em casa, na escola e na comunidade;
  • Estar atualmente engajado em atividades de responsabilidade social/voluntariado e comprovar ao menos 12 meses – contínuos ou não – de voluntariado.

A novidade é que a décima terceira edição vai contar com 50 (sim, cinquenta!) vagas

Então, o que você está esperando para se increver? Essa pode ser a oportunidade que vai mudar a sua vida, assim como mudou a minha.

Para saber mais sobre o programa, clique aqui. Para se inscrever, acesse a página dos Jovens Embaixadores no Facebook e clique em “Inscreva-se” no menu principal. Se achar muito complicado, tem um link direto no menu lateral do blog.

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No trem

14 de Julho de 2012
10h14

No trem de volta à Paris

Acordei cedo, tomei banho, café e terminei de arrumar as últimas coisas. Até aqui, tudo normal. 

A não ser por dentro.
Eu estava despedaçando por dentro.

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última foto do grupo com seus correspondentes franceses

Entramos no carro e, novamente, não trocamos muitas palavras até chegar à estação de Blois. Tudo que se ouviu ao longo da viagem foram básicos comentários sobre o tempo e sobre o dia 14 de julho.

Quando chegamos a estação, maior parte do grupo ja estava lá. Na verdade, acredito que eu tenha sido a última a chegar, já que saimos de casa às 9h, horário que deveriamos estar chegando à estação.

momento de agradecimento às famílias

abraço coletivo

Durante todo o caminho, tive em mãos a carta que havia escrito para Romane e Marie Paule na noite anterior, bem como os presentinhos que trouxe do Rio para eles.

Tiramos algumas fotos de grupo e com as familias na porta da estação até que Mme. Pletier apareceu dizendo que era hora de começarmos a dizer adeus à nossas famílias. 

NON! JE NE VEUX PAS PARTIR!

NON! JE NE VEUX PAS PARTIR!

Imediatamente abracei Romane e ficamos assim por um bom tempo. Depois ela me chamou para tirar algumas fotos juntas e me despedi do resto do grupo. 

eu e Romane

eu e Romane

Entreguei a carta e os presentes e passei o portão. Paa minha surpresa, Romane me acompanhou até a plataforma, levando minha mala. 
Foi muito difícil dizer adeus. Não pensei que fosse chorar, muito menos que Romane fosse, mas a verdade é que eu estava me segurando e nao pude mais conter as lágrimas ao olhar pela janela e vê-la chorando. 

Pela janela, disse que sentiria saudades e acenei em despedida. Vou guardar a ultima imagem que tenho dela: às 9h58, na Gare de Blois, enquanto o trem acelerava. 

vou sentir saudade

foto que tirei da janela do trem. Nela, Alexis, Audrey, Candice, Antoine, Tracy, Toinon, Romane e Bérénice, todos “irmãos” de algum participante

Agora estou aqui, na segunda classe (que é muito confortável, tá?) de um trem rumo à Paris, com um nova-iorquino ao meu lado e Adele nos ouvidos. Someone Like You,  essa é a musica que está tocando. Esta é, definitivamente, a trilha sonora de todos os tristes momentos de despedida da minha vida. Me lembro de quando deixei Charlotte e D.C…. Essa era a única música que se ouvia! 

A segunda classe do trem é dividida em pequenas cabines, onde cabe cerca de 6 pessoas. Esse é o Andrew, líder do nosso grupo, passando de cabine em cabine para se certificar de que estava tudo bem com todo mundo.

A segunda classe do trem é dividida em pequenas cabines, onde cabe cerca de 6 pessoas. Esse é o Andrew, líder do nosso grupo, passando de cabine em cabine para se certificar de que estava tudo bem com todo mundo.

Nesse momento, estou em algum lugar entre Orléans e Paris e, de certa forma, por trás de toda essa tristeza, estou animada para chegar logo lá. Hoje é um dia especial para a França, então creio que Paris estará anda mais bonita do que o natural. 

Sinto saudades. Sim, sinto saudades. Paris é como um sonho, enquanto Blois… Ah, Blois… Minha vidinha (quase) real. 

Daqui a menos de 1h estarei lá. Pela janela, agora só vejo mato. 

cadê a Romane?

Mato dos dois lados, não mais a imagem da pequena-grande debutante de cabelos longos e franja

Últimos momentos em Blois #2

13 de Julho de 2012,
Blois, France

No meio do jantar, Romane levantou-se rumo ao computador e disse que iria me mostrar a cantora que viria a Blois hoje a noite.

Modja, Inna Modja.

Nunca havia ouvido falar sobre, mas a primeira vista, já gostei de seu cabelo. Parecia simpática.

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Disse: 

– Que legal! Gosto de seu cabelo!
* Risadas de Romane * 
– E você vai ao show?
– Sim! E você também!
* Risadas compartilhadas * 

Romane aproveitou para me mostrar algumas de suas músicas e eu gostei muito de French Cancan (acho que é assim que se chama). Também descobri que ela não era tão desconhecida assim ao reconhecer uma de suas músicas. “I’m smiling in the morning, i’m happy in the evening, I’m laughing in the afternoon, no one is gonna change my mood…”ADORO! É a velha arte de conhecer um trecho da música, mas não saber quem canta. 

Esperei que Romane se arrumasse, pois fui com a mesma roupa que usei na festa de Antoine, apenas acrescentei uma jaqueta de couro, já que tava meio frio.

Quando chegamos ao local do show, estava bem vazio e me questionei se a cantora era boa ou não. Mal podia imaginar o quão cheio ficaria alguns minutos depois. 

Andando um pouco mais a frente, decobri o motivo pelo qual estava tão vazio próximo ao palco: todo mundo estava às margens do Rio assistindo aos desfiles e garantindo os melhores lugares para a queima de fogos que estava prestes a começar.

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Eu e Romane assistimos aos desfiles dos bombeiros e servidores publicos carregando bandeiras francesas e eu achei lindo. Ela perguntou se havia algo do tipo no Brasil e eu disse que sim, em 7 de Setembro.

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Encontramos algumas amigas dela que disseram já me conhecer embora eu, pessoalmente, não lembrar de já tê-las visto anteriormente. Trágico!

Queríamos encontrar o resto do grupo, então ligamos para Bérénice e perguntamos onde ela estava. Como o barulho era muito grande, Romane entendeu “próximo ao estacionamento subterrâneo” e fomos andando para lá. Ficamos procurando-os e nada, até que ouvimos os fogos. Corremos de volta para onde estávamos enquanto eu filmava tudo. Turistooona! kk 

Encontramos o povo e ficamos lá assistindo. Fiquei maravilhada com a queima; era a primeira de minha vida. Pois é, embora seja carioca da gema, nunca fui ao Revellion de Copacabana, sad story.

Agradeci a Deus por estar ali assistindo aquilo. Era realmente um espetáculo! Estava emocionadíssma! 

Terminada a queima, corremos para perto do palco na esperança de conseguir um lugar tão bom quanto o que tinhamos no inicio, mas já sabendo que seria quase impossível. “Quase”, eu disse “quase”!

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Inna (rainha) Modja

Tem horas que ser pequena ajuda muito e esse foi um dos momentos: abri caminho no meio das pessoas e cheguei a segunda fileira antes do palco. Encontramos Ben e Frances no meio da multidão e depois fomos encontrando todos. 

O mais engraçado é que embora o show fosse maravilhoso e ainda por cima gratuito, a plateia nao estava empolgada. Not at all. Eles nao pulavam, nao cantavam, nao dançavam, nao gritavam… Eu e Frances eramos as unicas doidas dançantes no meio do povo.

todo mundo borocoxô

todo mundo borocoxô

Um episodio engraçado foi que no inicio eu e Francisco estávamos morrendo de sede. Como bons habitantes de grandes cidades e acostumados a muvucas e tumultos, simplesmente avisamos aos outros que iriamos ao restaurante ali ao lado tomar uma coca e voltariamos em breve. Ao ouvir isso, os franceses quase morreram; quase imploraram para que nao fossemos porque iriamos nos perder e nunca mais conseguiriamos voltar. Alheios ao desespero geral, fomos e em cinco minutos estavamos de volta ao mesmo lugar, vivos, sãos e salvos, fazendo jus às nossas big cities.

wooooooa!

wooooooa!

Fizemos amigos no meio da multidao e entramos na coreografia de uns malucos super animados (exceção em meio a toda aquela gente morta). Até Marie-Paule entrou na dança!

No final, Inna desceu do palco e caminhou em meio a multidão. Achei isso o máximo! 

A multidão se evacuou organizadamente assim qur o show terminou, coisa que nao acontece no Brasil. 

tod mundo blurred de animação

tod mundo blurred de animação

Me despedi de todos e voltei ao carro. Não muitas palavras foram ditas até que o carro estacionasse em frente a casa. 

Entrei no meu quarto e terminei de arrumar a mala, também falei com minha mae e irmãos no skype. Enquanto conversava, escrevi a seguinte carta de despedida: 

Marie Paule et Romane, 

Je n’ai pas de mots pour dire combien tu as été importante au cours de mon séjour à Blois. Comme j’ai dit dans mon discurs, je pense que j’ai eu de la chance de venir chez toi.
Quand je suis arrivée ici j’étais un peu perdue. Je ne savais pas quoi faire ou où aller mais comme le temps passait tu m’as fait sentir a l’aise.
Je te remercie por l’hospitalité et d’être patients avec mes fautes de français. J’ai beaucoup appris avec toi.  Merci beaucoup pour tout que tu as fait pour moi, por sa gentillesse, amour et soutien.
Je espère que tu ne m’oublie pas parce que je jamais t’oublierai. Maintenant tu ais partie de ma vie et de mon histoire.
Je espère que nous nous rencontrons bientôt. Tu me manqueras beaucoup! 

Je t’aime, 
Laís.